(Interior)mente

Holding

Holding proveniente do inglês e inicialmente desenvolvido por Winnicott, é um conceito que remete para a transmissão de suporte e através deste sustentação e segurança podendo estar presente desde uma fase muito inicial do desenvolvimento do bebé (Medeiros & Aiello-Vaisberg 2014). Este conceito está então igualmente relacionado com outras temáticas como ilusão, integração, continuidade, sustentação física e psicológica através de uma presença física viva e confiável

Esta base segura é desenvolvida desde muito cedo incluindo o nascimento. A forma como percecionamos, vivemos e sentimos atualmente é influenciada desde então. Os sentidos, assumem desde logo uma importância fulcral pois é com eles que o bebé apreende os vários estímulos pelo qual está rodeado. Grande mudança esta, o bebé deixa de estar protegido naquela bolsa interior. Só por si, o contacto corporal e o toque assumem a importância de acalmar o bebé para que este se sinta seguro – o sentir que alguém está ali e consequentemente confiando no que o rodeia. Assim, poderíamos referirmo-nos a este conceito apenas na relação de vinculação mãe-bebé, porém esta técnica foi crescendo e revelando a sua importância na clínica contemporânea atual deixando de estar restrito apenas ao bebê ou pacientes com um quadro clínico regressivo ou mais complexo (Medeiros & Aiello-Vaisberg 2014). Desta forma, poderemos valorizar um novo paradigma e mencionar a extrema importância e necessidade de qualquer pessoa se sentir sustentada e segura para melhor lidar com a instabilidade diária. O alargamento do conceito de holding para a idade adulta irá trazer benefícios para o interior e exterior do contexto terapêutico, este irá contribuir para o fortalecimento emocional, para o incremento do potencial criativo e relacional potenciando a vivência, ressignificação e integração de acontecimentos dissociados sem a necessidade de uma explicação intelectualizada. Ou seja, colocamos e oferecemos ao paciente um momento sustentado de profundo encontro com o eu, uma experiência emocional e sentimental em que o terapeuta deverá estar em consonância incentivando a criação desta experiência e praticando uma escuta e presença ativa.

Com a certeza de que muito mais há para saber e dizer sobre esta técnica desde os primórdios e da sua extrema importância desde o nascimento do bebé estou certa de que mais importante que toda a teoria envolvente é a experienciação e a vivência corporal e emocional desta tão intensa ferramenta. Por isso, falo do coração de quem a viveu para o coração de quem a poderá vir a experienciar. Se temos medo de a viver? Temos sim, também o tive na primeira pessoa. Medo de vivenciar sentimentos e emoções que eu sabia, outros não, que estavam perfeitamente e meticulosamente arrumados naquela gaveta mental que eu insistia em ter fechada. Fechada para não ter de mexer, não ter de lidar e não ter que viver. Dizia eu, convencida de que tudo estava resolvido e que eu, poderosa, teria tudo perfeitamente controlado. Mentira. Tudo mudou quando me permiti viver, quando me permiti sentir e digo-vos com a maior certeza que não há sensação mais libertadora e satisfatória que esta. Viver com o que sentimos, viver realmente o que fazemos. Perguntam vocês e bem o que é isso de holding afinal?

A resposta mais vivida do que pensada, holding é o momento em que te permites encontrar contigo e com as tuas experiências sem forçar. Mas este encontro é sustentado por alguém que está por trás de ti, por alguém que está realmente contigo. Esse alguém não está apenas presente fisicamente, está em consonância, sentindo e vivenciando a tua experiência. Alguém que pode nem dizer nada, mas alguém que está com um espírito de abertura sem questionar e sem julgar. Alguém que sentes que está presente, alguém que sem falar e apenas com a presença te transmite confiança, segurança e conforto e é esse alguém que impulsiona a viver a experiência. Esta consequentemente te irá levar a olhar para todas as outras experiências de uma forma diferente com outra confiança, outra segurança e outra força de as viver.

Agora paremos para pensar quantas vezes vivemos realmente? Quantas vezes estivemos efetivamente com alguém? Quantas vezes precisamos que alguém esteja connosco? E quantas vezes precisamos realmente não de ouvir, mas de sentir, este “eu estou aqui” independentemente de qualquer circunstância … Pois é, muitos porquês nestas respostas.

Talvez esta técnica te proporcione uma nova visão, uma nova forma de estar, uma nova forma de viver, uma nova forma de sentir e talvez descubras que às vezes não precisas dizer só precisas de realmente estar, ou que estejam contigo, com todos os sentidos alerta.

O pouco é muito e está é a melhor forma que tenho para vos mostrar isso!

O texto não está científico, está sentido e vivenciado, sintam-se à vontade para viver e sentir e quem sabe partilhar a experiência e as questões que vos coloco, prometo voltar cá em breve!    

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